quinta-feira, 14 de maio de 2009

A CALCINHA DE MEIO EXPEDIENTE.

Mário, senhor maduro e de grande respeito, sempre bem-humorado, aposentado e contador de “causos”. Adora receber as pessoas em seu moderno sobrado, bem localizado no Pilarzinho. Aqui mesmo, em Curitiba.
Recentemente reformou a churrasqueira adornada por gerânios, tulipas e beijinhos. Belos quadros na parede, facas de todos os países e diversos apetrechos de velho churrasqueiro.
Não bastasse a gentileza, parte integrante do espírito de Mário, uma bela coleção de whisky, que jamais se furta em oferecer, e, afora isso, obviamente, tem sempre Skol, Antarctica, Original e Bohemia naquele freezer maravilhoso, recentemente adquirido.
Encontrei Mário sábado passado, no bar do Português, ali na esquina da rua Augusto Severo com Euzébio da Motta, perto do Centro Cívico, feijoada da boa na hora do almoço.
Cadeiras na calçada, aquelas de plástico, que o gordo coloca uma em cima da outra para sentar, senão quebra, todas debaixo da árvore, clima agradável.
Se bem me lembro, lá estavam Pedrinho, Guto, Psiquê, Odílio, Raposo, Rogério Verruga, Maurício Presley e talvez mais alguns de quem agora não lembro. A turma é grande.. Ah, e o Mário, o velho e bom Mário, que pausadamente contava suas aventuras, preferências e hábitos.
Ao se levantar, para colocar a camisa dentro da calça, a barriga do Mário já está protuberante. Ele arrastou sua cadeira mais para o meio da roda e falou baixinho: “O que é que vocês acham de uma calcinha de meio expediente? “
Curiosamente e já dando risada o Pedrinho gritou: “Que porra é essa?” Tranqüila e pacientemente, espalmando as mãos, como se dissesse tenha calma, meu amigo, Mário falou: “É aquela calcinha que “ela” coloca pela manhã, depois do banho, com cheiro de talquinho.”
“E daí?”, perguntou o Guto. Mário, calmo como sempre, responde: “Primeiro você tem que imaginar o banho, o sabonete, o xampu, enfim todo o ritual. A pele lisa, depilada, os cabelos molhados descendo pelos ombros, a perereca raspadinha, aquele xixizinho, sabe, aquele que ela faz durante o banho! E então ela se enxuga, em pé, e aí levanta a perninha, pega aquela calcinha branca, dobra o pezinho para a frente, esticando os dedinhos, e coloca a perninha esquerda e depois na mesma toada coloca a perninha direita, sobe, puxa a calcinha até a cintura e dá aquela tradicional mexidinha nos quadris para acomodar as partinhas.”
Tudo para o Mário é diminutivo.
O Maurício ria e o Psiquê queria dar palpites, mas o Mário não o deixava atrapalhar o seu fetiche, e o Psiquê insistia que a calcinha tinha que ser da cor “azul céu” e que mulher que trabalha não usa fio dental etc etc.
Mário rebateu a última, respondendo que até então não havia falado de modelo de calcinha, mas que gostava da “asa delta”.
“Pois bem”, disse ele, “imaginem vocês ela tomando o cafezinho da manhã, uma torradinha, ou uma bolachinha cream cracker e uma maçãzinha. Depois, entra no elevador, cumprimenta a vizinha, vai para a garagem, pega o carrinho e vai para o escritório, calça comprida justinha, salto alto, maquiadinha e perfumadinha. Começou o expediente.”
“Até o meio-dia, quantas mijadinhas vocês acham que ela vai dar?” “Duas”, disse o Pedrinho, que já chorava de tanto rir, tanto que os óculos dele não paravam mais em cima do nariz. “Uma”, disse o Psiquê, que não podia ficar sem dar o seu palpite. “Pode ser”, respondeu Mário.
“Então. Imaginem”, falou, “pode até ser nenhuma, mas que a calcinha já ficou com um “buquesinho” ficou.” “Buquesinho?”, perguntei. “É, cheirinho, sabe aquele cheirinho de talquinho com suorzinho ou xixizinho, mas de no máximo duas mijadinhas.”
Pediu mais uma cerveja, avisou que não ia pagar e que era pra colocar na conta. Reclamou do copo que estava gorduroso, pedindo para trocá-lo, a Karina, filha do português, mandou-o à merda, ele retrucou, dizendo não sei o quê, e mudou de lugar porque o sol batia em seu rosto e só então continuou entre um gole e outro, levantou a cabeça, lambeu os lábios, fechando os olhos, levantou-se e arrematou quase inaudível: “Você a leva para almoçar no motel, faz todo o “misancene” e matematicamente tira, aliás, tirar é chulo, você arrebata, extrai a calcinha dela, vira aquele trofeuzinho do lado avesso, coloca com todo cuidado, bem arrumadinha, em cima do travesseirinho e na hora do amorzinho você coloca o nariz bem em cima daquele risquinho, já quase amarelinho e fica sentindo o buquesinho, Ahahahahaha.”
“Essa é a calcinha de meio expediente”, ensinou.
Sábado que vem, tem churrasco na casa do Mário.


Geraldo Doni Júnior 13/09/2007

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