Geraldo:
Será que vc aguenta essa verdade que o texto abaixo nos revela?
_ Ó, Aquela que não tem nome, seria possível resumir toda sabedoria ao ato de ‘conhecer-se a si próprio’?
_ Eu sou a Inominável, e por não ter nome o universo já me conhece.
Conhecer não é dar nome às coisas. Mas sofrer a experiência de suas presenças em seus corpos.
Pode o ser humano conhecer as coisas?
_Creio que sim, Ó Patêmica! Nossa inteligência nos garante esse saber.
_ Sua inteligência só conhece as causas das coisas, mas não as experimenta.
Conhecer apenas o que causa a existência das coisas é como saber de onde elas vêm, mas desperceber suas presenças.
A inteligência do ser humano conhece apenas a idéia, o fantasma de si, mas desconhece sua existência concreta.
Para conhecer as coisas não basta apenas simular seus fantasmas na mente, também é necessário experimentar o sabor que as coisas mesmas têm.
Para conhecer-se a si próprio, não basta a ilusão intelectual do que se pensa ser, também se faz necessário sofrer a experiência do existir.
_Então, como posso, Mãe Desconhecida, viajar pelo conhecimento de mim mesmo?
_Eu lhe digo:
Abandone a esperança de inteligir sua existência.
Alcance a solidão e desbarate a rede de comunicação inteligente com os outros.
Isole-se das deduções e induções lógicas que lhe aprisionam ao óbvio.
Afaste-se da cega luz da razão, que ofusca suas emoções.
Ensurdeça-se para a voz única da lógica, que faz calar as canções da paixão.
Afaste o pensamento inteligente e encontre a paz que reina na insensatez.
Relaxe a rigidez dos métodos.
Abandone as razões que criam o medo.
Abandone-se aos desejos que lhe conectam com a vida.
Largue a mão das coisas que lhe prendem aos compromissos.
Arranque a roupa que silencia seu corpo e se desnude.
Saboreie o sofrimento da paixão e recolha o conhecimento da dor e do prazer.
Fuja da euforia inteligente e vague melancólico em meio ao caos.
Esqueça-se do que é o feio e do que é o belo.
Encontre o contentamento sem qualquer motivo.
Arrebente as cercas e aventure-se pelo proibido.
Levante e ande sem as muletas da razão.
Dê adeus a tudo o que mais lhe vale.
Caminhe decidido pela estrada que vai dar em nada.
Talvez, após fazer tudo isso com insistência, você poderá começar a conhecer-se a si próprio.
_Ô, Mãe da Insensatez, onde poderei me encontrar quando fizer o que me recomendou?
_ Em qualquer lugar menos ignorante de si próprio.
Assunto: Re: Será que vc aguenta essa verdade?
MEU CARO MARCOS.
Aguento tanto quanto ela é verdade.
Penso estar diante de uma suma importância a um processo narrativo que estimula o meu sentimento de piedade e de tristeza, meu poder de tocar o sentimento de melancolia ou de ternura, pela patemização, de acordo com Houaiss.
Então, como posso, Mãe Desconhecida, viajar pelo conhecimento de mim mesmo.
Se faz necessário sofrer a experiência do existir??????? quem disse????
Desde quando existir é sofrer???? Existir é amalgamar experiências, tanto quanto vc é capaz de ser feliz, catapultando-se ao vento ou não...lerdo ou não...em devaneios talvez!!! Rico ou pobre. Que me interessa?
Então como posso Mãe Desconhecida (sic), viajar pelo conhecimento de mim mesmo?
Viajando, oras! para dentro do meu tamanho, ademais existir não significa necessariamente sofrer. E quem disse que eu quero, apenas abandono-me aos desejos que me conectam com a vida, aí penso que vivo de acordo com eles que por sua vez são meus de verdade e de fato...É isso não?
Geraldo
Caro amigo Geraldo:
Veja vc como as palavras são navalhas que sem os cuidados devidos cortam aqui e ali, por vezes ferindo-nos quando não alcançamos o sentido que lhe está oculto.
Por exemplo, a palavra "sofrer" está ali no texto no sentido de "passar por uma experiência", e se assemelha a "paixão" (de Pathos, do grego, que significa sofrer uma experiência - não apenas dor). Existir, portanto, é sofrer... experiências que nos permitem sentir que estamos vivos. Não sofremos apenas dor, também "sofremos uma intervenção", "sofremos um susto", "sofremos um orgasmo".
Se vc vive em concordância com seus desejos - o que é digno de elogio pelo seu esforço -, já experimenta o caminho do autoconhecimento que não se encontra na razão, pois que ela é adquirida quase totalmente de fora, enquanto os sentimentos são nosso próprio patrimônio. Por isso, a idéia de "abandonar-se aos desejos" é dar vaza para aqueles sentimentos que a sociedade reprime.
É engraçado vc ter achado melancólico o texto que lhe enviei.
Abraço, meu caro.
Falamo-nos no João!
Marcos.
MEU CARO MARCOS.
Sou eu novamente...não me leve a mal.
Frente a mim, abro lentamente um dicionário Aurélio, busco "orgasmo", "gozo", quem sabe até "pathos - paixão".
Digo abro lentamente, para que ele não perca o tom "amarelado" e não lance ácaros a mais em minha rinite de tão velho que é.
Pois bem, graças a essa recente troca de palavras com algumas idéias nelas contidas, estou dando muita risada agora.
Pasme você!...peguei-me "sofrendo" um orgasmo, verdadeira tortura, pelado em uma suite presidencial, cortejado e cortejando, para não dizer praticando um sexo selvagem com a Angelina Jolie, nuinha da silva, louca, desvairada, me querendo, gritando por mim, e eu "sofrendo" aquela experiência terrível...imagine ter que beijar aqueles lábios horrorosos... sei lá por onde andou aquela boca!!!...um verdadeiro inferno, ranger de dentes etc e tal, um sacrifício!!!
Hipotético...nem assim...não dá...não consigo sofrer trepando, nem no sentido lato, nem no sentido dado pela patêmia.
Por mais que se queira e a razão retórica esteja com você, fico com a poesia: orgasmo não se sofre, transcende-se, vibra-se e vive-se, percorre-se, imuniza-se, transforma-se, morre-se e renasce-se e, no sentido embutido em minha velha porção do encéfalo, já com um pouco de cerebrastenia, gozar é cerebração e celebração, quero mais e quero mais!!!
Nele não cabe a palavra sofrer por mais puro que seja o sentido dado à locução.
Neste ato não cabe sequer uma nesga de negação e em qualquer sentido que seja...com todos os perdões que mereço, sofrer, aqui ou onde quer que seja (gozando) descabe e é brochante, não existe, não se atinge o mais alto grau de excitação dos sentidos ou de um órgão, especialmente o acme do ato sexual sofrendo, seja em que sentido for...Especialmente quando eu estiver com a Angelina Jolie. hehehehe
DESCULPE A BRINCADEIRA...Eu entendi o sentido dado. Um respeitoso abraço.
Querido amigo Geraldo:
Veja como são as palavras: elas cicatrizam em nós interpretações que tatuam em nosso entendimento uma idéia fixa. Quando descobrimos sua origem, muitas vezes díspares com relação ao entendimento atual, ficamos estupefatos e incrédulos diante da liberdade de sua origem.
Veja o vocábulo "patético", que atualmente significa 'aborrecido', 'sem graça', e funciona como 'ridículo', justamente porque a razão faz de tudo para desqualificar as paixões e os sentimentos. Assim, nós engulimos essa interpretação como sendo a 'correta'.
A bela palavra "patético", que vem do grego pathetikós, cuja raiz provém de páthos, que significa paixão, afeto, sentimento. No entanto, a raiz grega foi utilizada pelo racionalismo filosófico e científico para designar aquilo que se 'sofre', 'sente', 'suporta', criando os termos 'patologia', 'antipatia', 'apatia' etc.
Assim, o racionalismo que sempre teve a intenção de humilhar e desprezar os afetos, os sentimentos, as sensações, para promover distintamente a razão, a lógica, a inteligência e a idealidade, e teve sucesso em seu intento ao transformar as paixões em qualidades pejorativas.
Por outro lado a palavra 'afeto', do latim affectus, particípio passado do verbo afficere, significa 'ser tocado', 'ser comovido', ou seja, ser afetado por uma coisa ou pessoa. Os afetos nos comove, palabra que provém do latim commovere, que significa mover junto. Ou seja, a arte, as paixões e os sentimentos dos outros movem-nos para outros estados de espírito.
Penso aqui que vc c seria gravemente afetado, e consequetemente comovido, pelos lábios da Angelina Jolie (tanto quanto eu mesmo!) Tal 'afecção' geraria em vc (tanto quanto em mim também!) uma paixão, ou seja, uma comoção e um sentimento avassalador!!!...
Ora, então, a paixão significa ser afetado por algo ou alguém que nos faz SOFRER uma experiência sentimental, sensitiva, afetiva, que gera em nós uma paixão!! "Sofrer", portanto, não é uma coisa ruim, trata apenas de se passar por uma experiência (seja ela boa ou ruim).
Entenda que o uso que eu dou ao vocábulo 'sofrer' visa retirá-lo das amarras impostas pelo racionalismo, liberando também a paixão e a afecção de suas conotações pejorativas. É importante que a gente se lembre que para o racionalismo qualquer sentimento é ruim, não importa se prazeiroso ou desagradável. A razão precisa da apatia geral para que o pensamento possa desenvolver-se em a perturbação dos desejos. Lembre-se que os medievais chamavam o corpo de "perturbatio anime".
Grande abraço.
Marcos Camargo.
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