FOFOCA NO POSTE
“Vi a Cidinha saindo da pensão do Genaro com o filho do Genival da borracharia. Ele deu um beijo nela e depois tacou a mão na sua bunda. Ela tava descabelada e correu pra casa.
Coitado do Cidão, tá levando corno”.
Subitamente apareciam colados nos postes da cidade de São Sebastião da Amoreira, interior do Paraná, cartazes que contavam pecadilhos, escapadelas e pequenas maldades dos seus habitantes.
Seu Antonio, pai do João da Bota era o fofoqueiro, sempre de plantão. Morando com Marta sua mulher e Elizângela sua irmã, era tido como cidadão correto e bem aposentado.
Mantivera o segredo por anos a fio, a cidade nunca imaginou que ele era o autor das manchetes.
Escrevia a notícia com pincel atômico, preenchia uma média de oito a dez cartazes em papel comum e, como levantava cedo, os colava nos principais postes da cidade sem ser notado.
Falava-se que era o padre Eugênio, o fofoqueiro fantasma, conservador e moralista, sempre tentando dominar os ímpetos dos fiéis, até o dia que surgiu nos postes cartazes alertando a população dizendo:
“ O padre Eugênio quando bebe (e tem bebido muito ultimamente!) se veste de mulher e agora já ta dando o cú...Cuidado Juvenal do posto – eu vi tudo, cuide da mangueira!”
A cidade ficou em polvorosa! Será que é verdade?...Bem que notei que o padre anda estranho...Domingo na missa ele tava falando fino. O Juvenal? Não acredito. Mas será? Questionavam todos. O padre nem é tão gostoso, escapou da goela da Filha de Maria, que assustada com o que dissera, tapou a boca com os dedos.
Assim, a cidade toda comentava e os envolvidos tentavam se desculpar, ou sumiam por uns tempos.
Viadagem não!!! Alertou o prefeito Agaciel, à tarde, numa roda no bar do Cidão.
O tempo passava e lá vinha outra notícia grudada nos postes:
“O Edimar da padaria anda passando o pincel na rola da Ester, mulher do Amâncio Bolacha. Ela tá com a aranha peluda. Eu vi os dois juntos na estradinha da Maçaroca se maçarocando dentro do Fusca branco”.
E estourava nova “rebordosa” na cidade. Será verdade? Justo a Ester! Não acredito! É, mas ela tem uma cara de safadinha...Coitado do Bolacha. Tá na hora do Edmundo Delegado tomar uma providência. Tem que prender o Edimar, falou um imbecil qualquer.
Toninho, amigo -irmão de Edimar tratou de apoiar: Coitado dele, não tem culpa, aquela mulher é uma cavala, quem aguentaria dizer não? Fez-se silêncio e todos olharam pro Toninho (Até tu...?).
Coitada é a mulher dele, aparteou Matilde. Ter que ouvir tudo isso e não ter certeza de nada. A Zuninha não tem boca pra nada!
Ah, mas que a Ester merece um trato, merece, comentou Eduardo, arrependendo-se imediatamente ante os olhares da roda.
Laury Sarola, já meio bebum, arrematou: esse Edimar heim? Comeu bem! Vai ser gostosa lá na minha casa...
Penso que este caso vai parar na mão do Dr. Otug, o juiz, ponderou, com responsabilidade, Rodrigo, que viera de Rio Negro, filho do Hortêncio da papelaria.
Vai nada, isso vai virar é uma surubada geral, detonou Bráulio da Construtora, que cochilava na mesa, depois de umas cinco Brama Extra.
O tempo passava, e:
“O Mário do Cartório tá metendo a mão no jarro, quer por que quer comprar a Fazenda do Pintinho e o Dr. Cravoso não tá percebendo. Se continuar assim vai fechar o Cartório e comer a mulher do dono.”
Nova esbórnia em São Sebastião da Amoreira, Dr. Otug foi consultado. Nada disse, aguardava manifestação do Ministério Público ou de algum advogado.
Até que o tempo passasse, ficava latente uma nuvem de desconfiança entre os habitantes de São Sebastião da Amoreira.
Questões surgiam nas mentes mais poluidas e inseguras: Quem tá dando pra quem? Quem tá comendo quem? Quem tá roubando ou sendo roubado? Quem virou de lado?
E o seu Antonio se divertia com o seu segredo.
Vez por outra surgia uma nova fofoca nos postes.
Se alguém(s) desse(m) mole ia(m) pro poste.
Seu Antonio continuava incólume e assim ficou durante anos, até que um dia “caiu do cavalo”, morreu com o próprio veneno, entregou-se, sem querer.
Era uma quinta feira ensolarada, mês de outubro, nem quente nem frio, saiu pelos fundos de sua casa, a multidão enfurecida, queria linchá-lo. Correu em direção da garagem, buscava seu automóvel, não teve sorte. Dona Marta não sabia o que se passava, correu em socorro do marido, a multidão furiosa engrossava o número. O padre xingava, fazia o nome do pai e pedia perdão.
Aquela maratona pelas ruas da cidade, liderada pelo Seu Antonio, ia revelando os dizeres dos cartazes recém colados nos postes:
“A minha irmã Elizângela tá corneando meu cunhado Vicente, coitando na cadeira do dentista toda quarta feira às 11,00 horas! Diz que o Dr. Cosme, marido da Délia, tem o pinto pequeno mas trepa bem!"
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